Jornalista, Regina Porfírio Botelho de Resende
Depois do anúncio de 37 ministros e da posse cercada de simbolismo popular fica uma pergunta sobre o que podemos esperar do governo Lula.
O grande número de ministros não tranquiliza nem aponta para grandes ações de governo. Foi estabelecido para atender as exigências dos partidos da aliança que elegeu Lula. A criação de tantos ministérios teve também o propósito de dar representatividade a grupos da sociedade civil militantes em vários setores. Esses, porém, em governo enxuto e bem organizado, poderiam ter seus direitos defendidos perfeitamente pelos ministérios maiores sem que houvesse necessidade de engordar a máquina pública e torná-la dispendiosa para os cofres federais.
Depois da festa da posse Lula assinou decretos que havia prometido serem os primeiros atos do governo. Um deles revoga as determinações do ex-presidente Bolsonaro para a aquisição e porte de armas, com autorização sujeita a várias exigências.
Outro despacho restabelece a aceitação do Fundo Amazônia, recebendo cerca de R$ 3 bilhões em doações internacionais, principalmente da Alemanha e Noruega, dinheiro que é determinado para uso em ações de combate ao desmatamento, e que foi dispensado pelo governo anterior desde 2.019.
Um outro decreto das primeiras horas revoga a licença de garimpo em áreas indígenas e de proteção ambiental, permissão concedida pelo governo anterior, que foi, o tempo todo, omisso nas questões do meio ambiente.
Até aí, tudo bem com os primeiros dias do governo. Proteger o meio ambiente na defesa da Amazônia, restringir a compra e o porte de armas, aceitar os bilhões enviados pelos países europeus para o reflorestamento, são ações louváveis e esperadas por grande parte da população.
Mas, ao mesmo tempo, o novo governo mostra intenção de praticar a política de fortalecimento do Estado em prejuízo da iniciativa privada, já tendo determinado a suspensão do processo de privatização de empresas públicas como Correios e Petrobrás.
Não permitir a privatização de empresas estatais faz parte da cartilha que o PT prega e gosta de praticar, porém em desacordo com o moderno conceito de governabilidade usado nas nações desenvolvidas e ricas, onde ao Estado compete cuidar das necessidades básicas do cidadão, deixando ao privado os instrumentos para o desenvolvimento e para a geração de empregos.
Quando se pensa o que esperar do governo Lula, imagina-se que outro pensamento político precisa ser também ouvido na execução das ações, não apenas o do PT ou de suas alas mais radicais. -